Apesar do leve aumento na representação feminina no setor de tecnologia, ainda enfrentamos uma disparidade preocupante, especialmente em cargos de gestão. Isso representa um desafio não só para mulheres que desejam construir uma carreira neste campo, mas também para as próprias organizações, que poderiam colher benefícios significativos com a equidade de gênero.
Segundo o relatório “TheReady – Now Leaders”, da Ong Conference Board, as organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chances de ter melhor desempenho financeiro, destacando a importância da presença feminina em posições de destaque. Porém, conforme dados de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do total de pessoas em cargos gerenciais, 60,7% eram homens e apenas 29,2% mulheres.
Outra pesquisa, do IBM Institute for Business Value (IBV) e Chief, indicou uma queda no número de mulheres nas organizações em 2022. Neste cenário, menos da metade (45%) das organizações pesquisadas no Brasil afirmou que considerou a inclusão de mulheres em cargos de liderança como uma estratégia de crescimento.
Para compreender melhor essa dinâmica e os desafios enfrentados pelas mulheres na tecnologia, conversamos com Rita de Cássia Piciura, CIO LATAM da All4Labels. Rita compartilhou conosco sua jornada profissional, revelando os obstáculos enfrentados e as perspectivas para o futuro. Continue a leitura para compreender a jornada de uma mulher na liderança!
No início de sua carreira, a CIO comenta que era uma das poucas mulheres em seu ambiente de trabalho e frequentemente se via obrigada a provar seu valor e enfrentar preconceitos de gênero. “Comecei a trabalhar com tecnologia aos 14 anos, fiz cursos, iniciei como analista de helpdesk e trilhei uma carreira. E ao longo dessa jornada, eu entendia que precisava me posicionar de uma maneira muito firme, ou ninguém dava atenção”, relata. Além disso, a falta de representatividade feminina era evidente. “Quando comecei minha carreira eu não tinha mulheres para me inspirar. Mulheres na tecnologia eram vistas como exceção. Nunca tive uma liderança mulher, mas tive algumas colegas de trabalho e o que eu vi foi que a maioria delas chegou até determinado cargo tendo que se provar a todo momento também”.
Apesar da realidade encarada pelas mulheres no ambiente de trabalho, Rita acredita que quem chega a uma posição de liderança pode criar um ambiente mais acolhedor para as próximas mulheres que virão. “É preciso virar a chave: o que te levou onde você está não é o que você precisa manter. Eu entendi que precisava usar as minhas próprias fortalezas, e não replicar traços de um perfil masculino, para liderar a minha equipe”, destaca Rita.
Embora as iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) estejam em estágios iniciais em muitas organizações, Rita enfatiza a importância de iniciativas voltadas para promover o aumento da presença feminina no setor de tecnologia. “A mulher que chega deve continuar abrindo espaço para quem quer chegar. É importante que as mulheres se sintam empoderadas e que busquem seu espaço.”
Entre os benefícios de ter uma equipe diversificada, a CIO cita a variedade de perspectivas nos projetos. “Não podemos generalizar, mas muitas vezes a mulher chega mais bem preparada para estar em uma cadeira liderança do que um homem. Em um Ted Talks, ouvi que o homem entra em um cargo de gestão com 80% dos pré-requisitos e a mulher, com 100%. Então, preparada ela está – agora, para chegar a um cargo de liderança, a mulher precisa se sentir segura o suficiente”.
Para promover a inclusão das mulheres na tecnologia, várias iniciativas podem ser adotadas. Programas de mentoria, treinamentos de conscientização sobre viés de gênero e políticas de diversidade e inclusão são apenas algumas delas. Além disso, investir em educação STEM para meninas, desde cedo, é essencial para criar uma base sólida de talentos femininos nesse setor.
STEM é a sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (em inglês: Science, Technology, Engineering and Mathematics). É um conjunto de habilidades e conhecimentos relacionados a essas áreas, que são essenciais para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e para o progresso da sociedade em geral.
As habilidades STEM são cada vez mais requisitadas no mercado de trabalho, especialmente no setor de tecnologia. As empresas estão buscando profissionais que sejam capazes de pensar criticamente, resolver problemas complexos, trabalhar em equipe e se adaptar às mudanças constantes do mercado. Ao desenvolver essas capacidades, aumentam-se as chances de seguir uma carreira em diversas áreas da tecnologia, como: engenharia de software, ciência e análise de dados, inteligência artificial, robótica, segurança da informação e gestão de projetos
De acordo com dados do IBGE de 2022, apenas 23% dos profissionais de tecnologia no Brasil são mulheres. É importante incentivar as meninas a desenvolverem habilidades STEM desde cedo para que elas possam ter as mesmas oportunidades que os meninos no mercado de trabalho, iniciando estudos na área e, posteriormente, uma jornada de carreira que permita crescer no setor. Isso pode ser feito por meio de diversas iniciativas, como:
Apesar da crescente demanda por habilidades STEM, as mulheres ainda representam apenas 28% da força de trabalho nessas áreas globalmente, de acordo com a UNESCO.
Perspectivas para o futuro
A participação feminina não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma necessidade para impulsionar a inovação e o progresso em todas as áreas da tecnologia. Com mais representatividade, oportunidades e apoio, as mulheres podem e devem alcançar todo o seu potencial no setor. A participação das mulheres na força de trabalho global pode gerar até US$ 12 trilhões em PIB até 2025, segundo o Fórum Econômico Mundial.
A liderança feminina é essencial para impulsionar a mudança e promover a igualdade na tecnologia. Mulheres líderes podem servir como modelos para outras mulheres e meninas, inspirando-as a seguir carreiras nesse campo. Construir um futuro inclusivo na tecnologia exige um esforço conjunto de organizações, profissionais e RH. Através de ações como as mencionadas, podemos criar um ambiente mais justo e equitativo para as mulheres, permitindo que elas alcancem todo o seu potencial e contribuam para o desenvolvimento do setor.
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Publicado em: 11 de abril de 2024